Coleção de citações encontradas em meus estudos. estoicismo@protonmail.com
#279 — Por que ficar feliz com o sucesso alheio
"Está de acordo com a Natureza mostrar afeição e celebrar os avanços dos amigos como se fossem nossos. Porque se não fizermos isso, a virtude, que é fortalecida apenas através do exercício das nossas percepções, não resistirá em nós."
— Marco Aurélio
Ver as outras pessoas progredindo é algo muito difícil, especialmente se nós estamos em um mau momento. Nossa mente caçadora-coletora suspeita que a vida seja um jogo de soma zero; se alguém ganha, alguém tem que perder para manter o equilíbrio.
Sêneca uma vez observou que é possível aprender a "se regozijar com o sucesso [dos outros] e ser movido pelos [seus] fracassos". Suas palavras refletem o que Marco Aurélio escreveu: sem essa capacidade, não temos como desenvolver a virtude — especialmente a justiça que dita como nos relacionamos com os outros.
Empatia e altruísmo se desenvolvem através da prática, não são habilidade congênitas.
Uma pessoa estoica aprende a ativamente ficar feliz pelas outras pessoas — mesmo quando isso pode vir às suas próprias custas. A prática constante ensina a colocar de lado a inveja e a possessão. E se outros conseguiram, você também consegue.
Aplicação pessoal
Ryan Holiday disse que existem três coisas que você precisa ter em mente para poder viver de forma menos reativa:
1. Por que você faz o que faz?
2. Como você quer viver? (Quando você não sabe o que quer, mais se torna o padrão).
3. Decida que ficará OK com o que os outros fazem.
O terceiro ponto não vem sem prática.
Há meses todas as minhas tentativas resultaram em… nada. Enquanto isso, meus ex-colegas e amigos acumulavam pequenas conquistas. Nesses momentos em que a irritação ou a sensação de ser vítima do universo (Navalha de Hanlon) surgia ou o próprio ego insistia que eu era melhor que eles, eu mandava uma mensagem simpática para alguma pessoa.
Parabenizava qualquer coisa que viesse à mente ou só me mostrava solícita. Em poucos minutos, tudo desaparecia e eu lembrava que todos estamos no mesmo barco, mas não na mesma função. E todas elas são necessárias para o barco não afundar.
A vida não é um jogo de soma zero. Na verdade, estamos todos jogando com a vida — com algo difícil e imprevisível — e qualquer vitória deve ser comemorada, seja sua ou não.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#277 — Marco Aurélio sobre a interdependência das coisas (ou uma pista sobre genialidade de Da Vinci)
"Medite frequentemente na interconectividade e interdependência mútua de todas as coisas do universo. Pois, em certo sentido, tudo foi mutuamente entrelaçado e, portanto, possui afinidade — porque uma coisa segue outra de acordo com as tensões do movimento, suas agitações e a unidade de toda substância."
— Marco Aurélio
Todos os escritores, disse Anne Lamott, são pequenos rios correndo na direção do mesmo lago. Todos contribuem para o mesmo grande projeto. O mesmo é verdade para tantas outras indústrias, apesar de tantas pessoas trabalharem de forma egoísta, esquecendo que trabalho é algo comunitário.
A interconectividade das coisas é outro ponto em que os Estoicos insistem em seus textos. Uma razão pode ter sido a vida complicada em Roma e na Grécia.
Pessoas e animais eram massacrados no Colosseo para diversão de outros. Países eram conquistados e a população era vendida como escrava. O tipo de crueldade que é possível quando esquecemos que tudo (e todos) está relacionado, de uma forma ou de outra.
Uma palavra ríspida pode ecoar na mente de alguém por anos. A falta de gentileza pode ter efeitos que durem semanas. Um ato de crueldade pode repercutir por séculos.
Estamos todos no mesmo barco. Não faça algo que pode afundá-lo mais rápido.
Aplicação pessoal
Leonardo Da Vinci é considerado o maior gênio da história, desenvolvendo habilidades tanto científicas quanto artísticas. Em relação a sua genialidade, temos uma frase a ele creditada:
"Para desenvolver uma mente completa: estude a arte da ciência; estude a ciência da arte. Aprenda a ver. Perceba que tudo se conecta a todo o resto."
Genialidade/inovação não é uma epifania. Não é uma ideia bilionária surgida em um sonho. É saber conectar os pontos, conectar ideias. Benjamin Hardy entende esse conceito, por essa razão ele é o Medium Writer #1.
Da mesma forma que o conhecimento, todas as nossas escolhas, decisões e ações também estão conectadas. Uma ação hoje irá gerar uma cadeia de ações derivadas que afeta você e todo o resto.
Pense em uma gerente que demitiu um funcionário. As ações da gerente influenciam ela mesma, a equipe, os clientes, o funcionário, a família do funcionário e pode continuar se estendendo por mais dezenas de pessoas.
Ou um escritor que se trancou no seu apartamento para escrever seu magnum opus. A escolha dele afeta sua rotina, sua família, seus amigos, até mesmo o entregador de pizza. No fim, ele pode ter produzido um livro fantástico com interdependência entre conhecimentos que afetará milhares de pessoas de forma positiva — mas até finalizar o livro, outras centenas já foram afetadas.
Você pode escolher como vai agir — se vai ser o bom, o mau ou o feio — , mas lembre-se que suas escolhas não estão limitadas apenas a você. E na dúvida, ouça Marco Aurélio: "sempre aja com gentileza porque nenhuma outra resposta é aceitável".
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#275 — O investimento que vale a pena
"Mas a pessoa sábia tem nada a perder. Tal pessoa tem tudo armazenado para si mesma, deixando nada para a Sorte. Seus bens estão garantidos e firmemente acoplados à virtude, que nada requer do acaso, e, portanto, não podem ser diminuídos ou aumentados."
— Sêneca
Você pode investir em bens — ações, propriedades, títulos. Você pode investir em relacionamentos e conquistas. E você pode investir em você. Como sugere Sêneca, ser uma pessoa melhor e mais sábia.
Entre todas as opções de investimentos que você pode fazer, qual é praticamente imune à flutuação dos mercados? Qual é a opção que auxiliará quando você confrontar um problema? Qual jamais lhe abandonará?
Viktor Frankl relatou que as pessoas ao serem levadas aos campos de concentração, perdiam tudo. Um homem, ao ser questionado quem era, ele afirmou que era um profissional com vários diplomas. Os soldados, então, queimaram todos os diplomas do homem e ele caiu de joelhos porque achou que não tinha mais nada na vida.
Ele esqueceu que ainda tinha algo e que os diplomas não eram ele. Ele era mais do que umas folhas de papel carimbadas. Todo o conhecimento que o levou a adquirir os diplomas ainda lhe pertencia.
Mais importante do que o dinheiro que você tem na conta, do que seus diplomas, certificados e troféus, é quem você é. Ouça as palavras de Sêneca: invista em você. Esse é o único investimento em que você não tem como perder os rendimentos.
Aplicação pessoal
Sêneca teve uma vida interessante. Ele se tornou um homem rico por ter amizade com imperadores. Depois foi exilado com base em acusações que ninguém sabe se eram falsas ou não. Quando finalmente regressou à cidade Roma, foi por ordens da mãe do novo imperador. Ela queria que Sêneca se tornasse o tutor do seu filho.
Essa mulher se chamava Agripina e seu filho era Nero.
Durante anos Sêneca conseguiu conter as tendências do imperador. Mas à medida que Nero se tornava mais e mais desequilibrado, Sêneca percebeu que precisava abandonar sua posição de tutor. Então, ele fez uma oferta: ele entregaria ao imperador sua fortuna e devolveria todos os presentes que recebeu. Em troca disso, Sêneca receberia liberdade. Abandonaria seu posto sem nenhuma punição.
Nero negou a oferta, mas Sêneca partiu do mesmo modo, vivendo em relativa paz até o momento que um executor bateu à sua porta.
Ele carregava uma ordem de Nero: Sêneca deveria cometer suicídio. Nesse momento, em que você acha que Sêneca se apoiou?
No dinheiro? Nero já havia negado a oferta, dinheiro não fazia mais parte da questão. Nos amigos? Eles queriam o melhor para o filósofo, mas nenhum poderia mudar a ordem do imperador. Sêneca só tinha a si mesmo.
Durante anos ele estudou e praticou a filosofia. E no seu último momento, ele recorreu a todo esse investimento e cumpriu a ordem que lhe foi dada.
Você não vai receber uma ordem de Nero na sua porta ordenando seu suicídio. Mas qualquer investimento que você faça em si sempre vai contribuir para você superar os reveses da vida — que, convenhamos, não são poucos.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#273 — Ninguém pode limitar sua mente
"Se você colocar suas mãos violentas em mim, você terá meu corpo, mas minha mente permanecerá com Estilpo."
— Zenão de Cítio
Zenão não tinha poderes mágicos para impedir que algo negativo acontecesse ao seu corpo físico, seja o mal provocado por outros ou os infortúnios da natureza — acidentes, doenças.
Mas ele tinha um poder absoluto: o de proteger a mente de qualquer dano, habilidade cultivada sob os ensinamentos de Estilpo. Nas palavras de Marco Aurélio, ele tinha acesso à sua fortaleza interior.
Assim como Zenão, você tem a mesma habilidade. Espero que você nunca precise usá-la em situações de violência ou de injustiça, mas no meio do caos ou frente a qualquer adversidade, ela está ali. Sempre disponível.
Não importa o que aconteça a você, não importa o que o mundo externo jogar no seu caminho, sua mente pode permanecer com a filosofia de Estilpo. Ela é sua. Ela é intocável. E, neste sentido, você também o é.
Aplicação pessoal
Na década de 1960, o pugilista Rubin Carter foi erroneamente acusado de homicídio triplo e, devido a um júri enviesado, considerado culpado e condenado a três prisões perpétuas.
Ao ser levado para a prisão, ele pediu para falar com o diretor e fez a seguinte declaração:
"Eu sei que você não teve nada a ver com a injustiça que me trouxe a esta prisão, então estou disposto a permanecer aqui até que possa sair. Mas eu não irei, em nenhuma circunstância, ser tratado como um prisioneiro — porque eu não sou e jamais serei impotente."
Carter poderia ter entrado em desespero, mas ele se recusou a entregar aquilo que era seu: sua atitude, suas crenças, suas escolhas. E qualquer um que encostasse nele devia estar preparado para uma briga.
Novamente, espero que você jamais precise usar essa habilidade em algum momento de injustiça ou violência. Mas se você se encontrar fisicamente limitado(a) ou impedido(a) por algum obstáculo, você não precisa deixar sua mente ficar confinada neste mesmo espaço.
Aquilo que afeta seu corpo não pode afetar sua mente.
Como disse Carter em outro momento: "Eu não reconheço a existência dessa prisão. Ela não existe para mim."
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#271 —Quando "mais" se torna o padrão
"Nada pode satisfazer a ganância, mas mesmo os pequenos atos satisfazem a natureza. Então a pobreza de um exílio não traz infortúnios, pois nenhum lugar no exílio é tão árido ao ponto de não poder oferecer suporte amplo a uma pessoa."
— Sêneca
Reflita um pouco sobre o que você considerava como normal.
Seu primeiro salário parecia enorme. Comer miojo no almoço para não gastar muito dinheiro era rotina. Seu primeiro quarto tinha o tamanho perfeito para caber tudo.
Hoje, as condições do passado não seriam mais suficientes. E é provável que você deseje ainda mais do que possui agora. Mas há alguns anos, tudo parecia suficiente. Tudo estava bem.
À medida que vamos nos tornando "bem sucedidos", esquecemos quão resilientes éramos. Na verdade, começamos a nos tornar frágeis, acreditando que não podemos viver sem o que temos agora.
Você vai ficar bem se as coisas derem errado. Você pode viver bem com muito menos do que acredita ser necessário para ter uma vida confortável. Se acredita que não consegue, é só revisitar algumas memórias.
(Só evite voltar ao miojo).
Aplicação pessoal
Há alguns anos vi uma reportagem sobre um homem que vivia em uma casa rural no Camboja e sobre um homem que vivia em um apartamento de luxo em Nova Iorque. Adivinhe qual deles era o mais feliz.
O cambojano, satisfazendo suas necessidades básicas, não sentia que precisava de outra coisa. Ele tinha uma família, um trabalho e uma vida feliz. Enquanto isso, o nova-iorquino vivia insatisfeito.
Ryan Holiday afirmou: “Quando você não sabe o que quer, MAIS se torna o padrão.” Quanto você precisaria ganhar por mês para viver bem? O que você precisa ter para viver de forma confortável?
A probabilidade de você ter respondido algo muito acima da sua necessidade real é grande. E o próprio Holiday sugere que quanto mais cedo você achar a resposta para essas perguntas, melhor. Você viverá de forma menos reativa.
Ryan queria uma fazenda no Texas, animais no quintal, escrever e poder correr todos os dias. Ele também é um autor de best-sellers, mas isso é efeito colateral do bom trabalho que ele faz. O que ele realmente desejava, ele já conseguiu — o resto é um bônus da vida.
Não se baseie nos outros, defina os limites adequados para suas necessidades e você não precisará se preocupar com escolhas. Nas palavras de Ido Portal, limites oferecem liberdade.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#269 — O propósito oculto do lazer
"Lazer sem estudo é morte — uma tumba para o vivo."
— Sêneca
Você trabalha. Você se esforça. Você sacrifica.
Você merece férias.
Então pegue um avião, faça o check-in em um hotel e vá à praia.
Mas lembre-se de levar um livro. Não uma revista qualquer. Um livro.
Aproveite seu tempo de relaxamento como um poeta — não passivamente, mas ativamente. Observe o ambiente ao seu redor. Absorva. Entenda melhor seu lugar no mundo.
Tire uma folga do trabalho, mas não pare de aprender.
Talvez seu objetivo seja ter dinheiro suficiente para se aposentar cedo. Vá em frente. Mas o propósito de se aposentar não é viver uma vida de indolência ou esperar o seu tempo acabar sentado(a) no sofá assistindo ao Netflix ou Hulu.
Aposentadoria, ou qualquer tempo livre, é o momento de perseguir aquilo que lhe atrai. E é o momento perfeito porque durante suas folgas você não tem as obrigações ou distrações do mundo real.
Sentar no sofá o dia todo e não fazer coisa alguma não é uma vida. Também não é liberdade.
Aplicação pessoal
Bill Gates tem o costume de se retirar para um local calmo por duas semanas inteiras. Não são férias. Gates passa os 15 dias apenas analisando seus negócios, lendo, estudando, refletindo sobre suas escolhas.
Warren Buffett e Charlie Munger reservam horas inteiras dos seus dias apenas para ler.
O ato de Gates, Buffett e Munger se aproxima muito do que Sêneca afirmou na sua carta para Lucílio.
Precisamos viver. Mas viver depende de aprender a viver. Aprender quem somos, o que podemos fazer, o que devemos fazer, como o mundo funciona, como interpretar os eventos, como lidar com percepções.
Durante nossos dias, temos obrigações e prioridades; não devemos tolerar distrações. Quando finalmente estamos livres, devemos nos dedicar à nossa ferramenta mais versátil: nossa mente. Aproveite seus momentos livres para aprender algo, seja sobre o mundo, sobre uma habilidade ou sobre você.
Nas palavras de Henry Ford, "Aquele que para de aprender está velho. Seja aos vinte ou aos oitenta. A melhor coisa da vida é manter a sua mente jovem."
Na sua próxima viagem, lembre-se de levar um livro. Ou pare na livraria do aeroporto.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#267 — O local mais seguro que você irá encontrar
"Lembre-se que quando ela se retira em si mesma e encontra satisfação, a mente se torna invulnerável. Ela não fará nada contra si mesma, mesmo que a resistência seja irracional. E se o julgamento é deliberado e baseado na lógica…?
A mente sem paixão é uma fortaleza. Nenhum local é mais seguro. Uma vez que você se refugia lá, estará seguro para sempre. Não ver isso é ignorância. Ver e não buscar significa miséria."
— Marco Aurélio
Eu não temo o homem que praticou dez mil chutes uma única vez, disse Bruce Lee, eu temo o homem que praticou um chute dez mil vezes.
As artes marciais (ou qualquer tipo de combate) dependem de um estudo profundo do movimento. Como realizar cada passo da forma mais eficiente e precisa, e como tornar esse ato automático através da prática — criar um comportamento inconsciente.
Soldados e astronautas podem ser vistos como autômatos por terem construído uma base sólida de comportamentos que se tornaram inconscientes. Como soldados e astronautas são seres humanos (até onde sabemos), isso significa que o mesmo mecanismo está à nossa disposição.
Quando Marco Aurélio se refere a um local onde "ela não fará nada contra si mesma, mesmo que a resistência seja irracional", ele se refere à possibilidade de alterar os nossos hábitos através do treinamento.
Pense sobre os comportamentos que você gostaria que fossem automáticos. Quantos deles você praticou apenas uma vez?
Faça com que hoje seja a segunda vez.
Aplicação pessoal
Treine para não se entregar à raiva e você não ficará irritado(a) com as coisas pequenas.
"Ok, eu estou prestes a perder cabeça e arrancar os olhos de alguém. Respire fundo, solte o ar. Um. De novo… Dois…"
Treine para evitar fazer fofocas e você não fará parte dos círculos de conversa venenosos.
"Olha, eu tenho que voltar pra minha mesa, ok? Depois a gente se fala" ou a minha preferida: "Mas o que eu tenho a ver com o que ele/ela fez ou deixou de fazer?"
Treine para não pensar em excesso sobre um evento futuro e você não será vítima constante da ansiedade.
"O que acontecerá amanhã só diz respeito a amanhã. Agora, eu só preciso me preocupar com o que precisa ser feito agora. Certo, onde eu coloquei aquele livro…?"
Cada ação precisa ter um plano B e o dia-a-dia é o campo de treinamento para instituir os comportamentos que auxiliarão nos tempos de crise. ("Se me cortarem na avenida, eu vou gritar e buzinar ou vou agradecer porque o babaca não bateu no meu carro?")
É fácil? Não. Tudo o que é necessário nunca é fácil — é apenas simples. Mas cada ato bem sucedido de substituir o comportamento padrão é um passo mais próximo dos 10 mil chutes.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#265 — Dificuldades mostram o caráter
"Dificuldades mostram o caráter de alguém. Então quando confrontado com um desafio, lembre-se que os deuses estão lhe pareando com um oponente mais jovem, assim como um treinador faria. Por que? Se tornar um lutador olímpico requer suor! Eu acredito que ninguém tem um desafio melhor do que o seu, se você apenas o aproveitasse como um atleta aproveitaria a oportunidade de treinar com um oponente mais jovem."
— Epictetus
Os Estóicos adoravam metáforas que envolviam jogos olímpicos, especialmente as lutas. Assim como nós, eles consideravam os esportes como algo divertido e como uma oportunidade de praticar para os desafios.
Com essa metáfora, Epictetus traz nossa atenção a um dos desafios inevitáveis da vida. Sempre encontraremos pessoas melhores que nós — mais rápidas, mais fortes, com melhor visão, o que for.
A forma que escolhemos para responder a esse desafio mostra que tipo de pessoas somos.
Vamos aprender alguma coisa com o oponente?
Vamos ficar frustrados e reclamar como criancinhas mimadas?
Vamos desistir desse jogo e buscar um mais fácil para sempre sermos campeões?
A diferença entre os melhores atletas e os piores reside nessa escolha. Os melhores não evitarão os testes das suas habilidades. Na verdade, eles buscarão o desafio porque, como disse Marco Aurélio, o desafio não é uma medida das habilidades, mas o próprio caminho para melhorá-las.
O obstáculo é o caminho.
Aplicação pessoal
Em corridas olímpicas, cada atleta tem sua própria faixa para correr, ninguém se mete no caminho de ninguém. Apesar de estarem correndo para conseguir a medalha de ouro, a competição realmente acontece entre os atletas e eles mesmos — ser melhor agora do que foram nos treinos.
Nós deveríamos pensar do mesmo jeito, afinal não podemos correr no mesmo caminho da outra pessoa.
Você pode pensar: "Nossa, essa pessoa é muito boa nisso! Como posso melhorar minha prática?" Considero esse pensamento como uma forma saudável de tentar progredir. O outro não é o objetivo, é uma referência.
O que será que ela faz que pode funcionar para mim?
Que ajustes posso fazer para melhorar meu próprio tempo?
Será que posso conseguir algumas sugestões com essa pessoa?
Contudo, se você pensar: "Nossa, essa pessoa é muito boa nisso! Como posso ser melhor que ela?" aí a merda atinge o ventilador. Você ficará como o Dave Mustaine tentando atingir um objetivo que não está sob seu controle.
Eu vendi só 25 milhões de álbuns? O Metallica conseguiu 50 milhões, porra! Devo ficar feliz com isso?!
Sempre vão existir oponentes melhores do que você, então aproveite para aprender alguma coisa.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#263 — A vida não é uma dança
"A arte de viver é mais como uma luta do que uma dança, porque ser astuto na vida requer estar preparado para encontrar e resistir a ataques repentinos e inesperados."
— Marco Aurélio
Usar a dança como uma metáfora para a vida é praticamente um clichê. Você precisa ser flexível e ágil e dançar no ritmo da música. Você precisa sentir a pessoa com quem você dança e segui-la. Mas se você tentou fazer algo difícil, dançar é uma metáfora insuficiente.
Ninguém sobe em um palco ou entra em uma pista de dança e tenta derrubar os outros dançarinos. Você também não corre o risco de ser estrangulado(a) pelos competidores. (Assim espero, nunca se sabe.)
Por outro lado, um lutador precisa saber lidar com adversidade e com o inesperado. É parte do que eles fazem. O esporte que eles escolheram é uma batalha — assim como a vida.
E em uma batalha, você não luta apenas contra o oponente. Também luta contra suas limitações, emoções e contra seu próprio treinamento (o ambiente controlado da aula não é o mesmo que a vida real).
Destreza e graça não são suficientes. Também precisamos treinar e cultivar a vontade de prevalecer. Nesse aspecto, a filosofia é pedra que usamos para afiar essas habilidades.
Aplicação pessoal
Sejamos sinceros(as), evitamos os treinos difíceis, as questões mais complicadas da lista de exercícios, qualquer coisa que não esteja em um ambiente controlado ou não tenha um passo-a-passo.
Mas como você desenvolveu a confiança e os reflexos necessários para dirigir? Não nas ruas vazias praticando balizas com cones, mas no dia-a-dia, dirigindo nas ruas com pessoas insanas ao seu redor — pedestres suicidas, motoristas de ônibus enfurecidos e motociclistas aventureiros.
Por essa razão, não devemos esquecer as palavras de Marco Aurélio:
“Porque ser astuto na vida requer estar preparado para encontrar e resistir a ataques repentinos e inesperados.
A vida não é um ambiente controlado com cientistas observando por trás do vidro (oi, doutor!). A vida real é uma puta de uma bagunça.
Por isso um artista marcial faz sparring. Um gerente precisa sentar e ponderar sobre como aplicar a teoria no seu departamento. Um estudante precisa fazer um projeto com os conceitos que o professor apresentou e se preparar para tudo dar errado.
Você precisa do caos. Caso contrário, significa que você espera que tudo seja uma pista de dança livre. Em outras palavras: a expectativa que apenas gera decepção.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#261 — Lidando com a dor
"Para quando você sentir dor:
Veja que ela não o desonra nem degrada sua inteligência — não lhe impede de agir racionalmente ou de forma altruísta. E na maior parte dos casos, o que Epicurus disse deve ajudar: a dor não é insuportável ou sem fim, desde que você mantenha em mente os limites que ela possui e não os aumente em sua imaginação.
E mantenha em mente também que a dor normalmente se disfarça — febre, perda de apetite, sonolência… Quando você estiver incomodado por coisas como essas, lembre-se: 'Estou me entregando à dor.'"
— Marco Aurélio
Em 1931, Winston Churchill estava na Cidade de Nova Iorque e foi vítima de um acidente. Um motorista a 50km/h o acertou enquanto atravessava a rua. Testemunhas afirmaram que ele tinha morrido.
Felizmente, Churchill não morreu. Ele passou oito dias em um hospital com várias costelas quebradas e uma ferida severa na cabeça. De alguma forma, Churchill conseguiu manter a consciência e falar com a polícia.
Em momento algum ele culpou o motorista. Ele disse que a culpa pelo atropelamento tinha sido exclusivamente dele. Depois de descobrir que o motorista que o havia acertado estava desempregado, Churchill ofereceu dinheiro ao homem que lhe atropelou — não para comprá-lo, mas para ajudá-lo. Apesar da dor, ele tentou reduzir a publicidade do acidente para que isso não impactasse a vida profissional do motorista.
Anos depois ele escreveu, "A natureza é misericordiosa, ela não tenta um homem, criança ou besta além do que podem aguentar." O mesmo homem que resistiu e impediu a Inglaterra de ruir com os avanços de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.
Não importa quão horrível uma situação seja, eventualmente tudo estará bem de novo. Você só precisa aguentar.
Aplicação pessoal
Em A Divina Comédia, Dante descreve uma jornada espiritual.
Primeiro, ele se encontra no Inferno, uma área com nove círculos. Em cada círculo, vários tipos de pecadores são condenados a sofrer eternamente. Dante e Virgílio (autor de Eneida e seu guia) atravessam todos os círculos infernais, chegando à saída.
Mas a saída leva ao Purgatório e não ao Paraíso. Então, eles precisam cruzar o Purgatório para chegar às portas dos céus. Mas o que é o Purgatório para quem já passou pelo Inferno?
Quando você está passando pelo inferno, disse Winston Churchill, continue andando. Churchill resumiu os cantos do poema de Dante, ao mesmo tempo que concorda com Epicuro.
Nenhum sofrimento é eterno. Cedo ou tarde, ele chega ao fim. Uma dor persistente que eventualmente desaparece. Um ciclo de eventos negativos que se encerra com alguma boa notícia. A dor de perder alguém, que não desaparece realmente, mas é substituída pelas boas lembranças.
E se tudo parecer impossível de suportar, não tente a saída mais fácil, lembre-se de Sêneca e Epictetus: "você quebrou um dedo? Podia ter sido o braço. Você perdeu a carteira? Podia ter sido sua integridade. Você perdeu seus bens? Podia ter sido sua vida." As coisas sempre podem ser piores, então agradeça porque a sua situação não é o pior que poderia ter acontecido.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#259 — Resiliência é mais importante do que ter sorte
"Sucesso vem ao encontro do humilde e do pobre em talento, mas a característica especial de uma grande pessoa é saber triunfar sobre os desastres e pânicos da vida humana."
— Sêneca
Eu conheço pessoas que ganharam na loteria da vida. Você também deve conhecer alguém assim.
Pessoas que, desde o nascimento, tiveram uma sorte impossível de conceber, que, apesar de imprudentes, terem o costume de fazer péssimas escolhas, jamais se planejarem, conseguiram sobreviver sem um arranhão e com algumas conquistas nas costas.
É natural sentir um pouco de inveja. Quem não quer uma vida fácil?
Mas uma vida fácil é tão invejável assim?
Qualquer idiota pode ter sorte. Podemos criar a própria sorte. Não é uma habilidade paranormal.
Desenvolver resiliência (ou se tornar antifrágil), contudo, é algo admirável. Nesse caso, a sobrevivência não é fruto de circunstâncias ou de um berço de ouro, mas de superar as dificuldades e continuar quando outros desistem. Como bônus, essa pessoa também aprende a controlar as próprias emoções.
Nas palavras de Bruce Lee, "não peça por uma vida fácil, peça pela força para superar uma difícil".
Aplicação pessoal
Joe De Sena, criador da Spartan Race, tem o costume de dizer que as pessoas precisam sofrer mais. Traduzindo: elas precisam desafiar as próprias expectativas.
Quando você força o corpo (ou a mente) além do que acreditava ser seu limite, seu padrão de referência para coisas ruins muda. Você cria um novo conjunto de padrões e os problemas do dia-a-dia assumem uma nova proporção — eles se tornam insignificantes. Meu dia pode ter sido estressante, mas nada parece tão ruim depois de três séries na hack machine com carga de 50kg. (Só falto morrer).
Agora, imagine uma pessoa que sempre conseguiu o que quis sem muito esforço, alguém que não precisou lidar com obstáculos. Os pequenos problemas do dia-a-dia se tornarão monstros inomináveis, enquanto, para você, eles são o equivalente a insetos zumbindo.
Como disse Sêneca, "ninguém é destruído pela Sorte, exceto quando, primeiro, são enganados por ela".
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#258 — Nós não somos Estóicos
"Primeiro pratique não contar as pessoas quem você é — mantenha sua filosofia para você por um tempo. Da mesma maneira que uma fruta é produzida — a semente é enterrada em uma estação, escondida, crescendo gradualmente de forma a chegar à maturidade. Mas se os grãos brotarem antes que o caule esteja completamente desenvolvido, jamais serão colhidos… Este é o tipo de planta que você é, apresente o fruto cedo demais e o inverno o matará."
— Epictetus
Em A Lógica do Cisne Negro, Nassim Taleb fala da Antibiblioteca de Umberto Eco. Os visitantes do signore Eco podiam ser divididos em dois grupos:
1. O grupo que, ao ver a biblioteca, perguntava: “Uau, professore dottore Eco, que biblioteca o senhor tem! Quantos desses livros o senhor já leu?”.
2. O outro grupo entendia que a biblioteca particular não é um apêndice para elevar o ego, e sim uma ferramenta de pesquisa.
Afirmar que somos estóicos porque gostamos das ideias, brincar com livros de retórica complexa, ou possuir uma biblioteca intimidante que de nada serve é como ter um jardim com intuito de impressionar os vizinhos — o propósito oposto ao da biblioteca de signore Eco.
A biblioteca de Umberto Eco não era uma propriedade pessoal com intuito de impressionar as pessoas, da mesma forma que Eco não escrevia para parecer inteligente. Ele entendia que filosofia (no caso, a semiótica) precisava ser estudada, compreendida e aplicada e, para isso, ele também precisava dessa biblioteca extensa.
As raízes da filosofia levam tempo para se espalhar e dependem da prática, não de apenas conhecer a teoria e acumular livros. Livros são uma ferramenta, mas por si só não são o bastante.
Entender isso é começar a criar um jardim cujos frutos têm utilidade, ao invés de ser apenas decoração.
Aplicação pessoal
Você não é uma pessoa estóica. Eu não sou uma pessoa estóica. Ainda estamos no processo vegetativo. Mas, neste momento, posso parecer hipócrita. Você pode afirmar que estou indo contra as palavras de Epictetus.
Em minha defesa, escrever é uma forma de refletir sobre o que aprendi. Da mesma forma que Meditações era um exercício espiritual de Marco Aurélio para ele mesmo, meus textos tendem a ser uma reflexão pessoal, uma tentativa de transpor o que li em algo mais prático — lembretes que poderei usar nos momentos que sair do caminho. (Poderia escrever e não publicar, mas ao tornar os textos públicos, sou obrigada a continuar a escrevê-los).
É uma das formas que tenho para cuidar das sementes. Mas fazer uso daquilo que escrevo sempre será mais eficaz que escrever. No seu caso, fazer uso daquilo que lê, ou encontrar sua forma de aplicar.
Filosofia não é uma roupa que você coloca ou um discurso que profere quando for conveniente. Utilizando as palavras de Sêneca para resumir as de Epictetus: filosofia é para agir, não para falar.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#256 — Como se proteger do medo
"Não, são os eventos que provocam medo — quando outro tem poder sobre eles ou pode preveni-los, essa pessoa se torna capaz de inspirar o medo. Como a fortaleza é destruída? Não por ferro ou fogo, mas por julgamentos… Aqui é onde devemos começar e a partir daqui devemos aproveitar a fortaleza e depor os tiranos."
— Epictetus
Os estóicos possuem um conceito chamado de Cidadela Interior. Na sua concepção, essa fortaleza é o que protege a alma.
Podemos estar fisicamente vulneráveis ou à mercê do destino, mas nosso interior permanece impenetrável. Pense em James Stockdale preso no Vietnã por quase 8 anos e sendo capaz de manter a sanidade.
Contudo, todo sistema é tão forte quanto seu elemento mais fraco.
Neste caso, vamos assumir que, se existe uma fortaleza inexpugnável, alguém habita esta fortaleza. Nenhuma defesa será útil se uma entidade de caráter questionável resolver abrir os portões.
Entregar-se ao medo (ou à raiva) provoca a abertura dos portões para outras emoções e impressões negativas.
Você tem uma fortaleza a defender, não deixe qualquer um que bater à porta entrar. Nem todas as impressões são verdadeiras.
Aplicação pessoal
Um dos pontos principais do estoicismo é aprender a diferença entre aquilo que está na nossa esfera de controle e aquilo que não está.
Cientificamente falando, esse princípio também ajuda a controlar o medo.
Quando nos sentimos no controle, ficamos menos propensos a nos apavorar. Por essa razão, algumas pessoas perderam a cabeça com o surto de Ebola, mas continuaram a não usar cinto de segurança — mesmo que a chance de morrer em um acidente de carro seja maior à de morrer por causa de Ebola.
Felizmente sempre temos oportunidade de exercer controle. Se não temos como controlar ou influenciar o evento, podemos controlar nossa percepção sobre ele. Mesmo que algo pareça, inicialmente, aterrorizante, podemos escolher analisá-lo racionalmente ao invés de se deixar levar pela primeira impressão. Voltamos ao velho: pare, respire e não adicione juízo de valor.
Analise os fatos pelo que eles são, não pelo que eles parecem.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#254 — Com o que “menos” se parece?
“Nos acostumemos a jantar sem as multidões, a ser um escravo de poucos escravos, a adquirir roupas pelo seu propósito real e a viver em acomodações mais modestas.”
— Sêneca
Em 41 DC, Sêneca foi exilado para a Córsega. Como consequência foi desprovido do seu título e das suas posses, vivendo em condições precárias até ser chamado de volta a Roma.
Apesar das dificuldades da situação e alguns momentos de desespero, Sêneca suportou seu exílio com a conhecida resiliência estóica.
Não corremos o risco de sermos exilados como Sêneca, mas em qualquer momento podemos encontrar uma situação que nos forçará a ter menos. Menos dinheiro, menos liberdade, menos reconhecimento, menos recursos, menos acesso, menos oportunidades. A própria idade também irá impor suas limitações — menos energia, menos mobilidade.
Uma forma de se proteger das oscilações do destino é viver dentro das suas possibilidades agora. Você pode viver com menos do que acredita ser necessário.
Aplicação pessoal
Por que pessoas com salários altos continuam se afogando em dívidas? Enquanto isso, existem outros como Mr. e Mrs. Money Mustache que, em apenas 9 anos de trabalho, juntaram dinheiro suficiente para se aposentar.
Os dois grupos (endividados e Mustachians) têm acesso aos mesmos recursos, ao mesmo conhecimento e poderiam ter uma condição financeira similar. Por que, então, configuram extremos de um mesmo espectro?
Porque um desses grupos não aprendeu a viver dentro das próprias possibilidades. Foram ensinados que devem viver acima delas. Enquanto isso, Mustachians vivem abaixo das possibilidades — eles não fazem sacrifícios, apenas escolhas conscientes.
Se você decidisse viver com menos do que acha que precisa, como seu dia seria? Talvez abdicasse de um pouco de conforto. Fora isso, tudo seria praticamente igual.
Faça o teste: por um mês, tente viver com no máximo 60% de tudo o que receber. (Pense na possibilidade de se aposentar mais cedo). O choque inicial rapidamente dará lugar à sensação de normalidade.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#252 — Nada a temer, exceto o medo
"Mas não existe nenhuma razão para viver e nenhum limite para nossas misérias se deixarmos nossos medos predominarem."
— Sêneca
"Nada a temer, exceto o medo" parece uma frase saída de biscoito da sorte, mas fez parte de um discurso de Franklin D. Roosevelt:
"Deixe-me afirmar minha crença que a única coisa que devemos temer é o próprio medo — sem nome, sem razão, terror injustificado que paralisa os esforços necessários para converter retrocesso em avanço."
Os estóicos sabiam que o medo era o que deveria ser temido. Marco Aurélio afirmou que os efeitos da raiva e da agressividade são piores do que as emoções em si e o mesmo vale para o temor. Aquilo que tememos é algo ínfimo perto dos efeitos colaterais que o próprio medo cria.
Uma situação difícil não é aliviada pelo medo, ela apenas se torna mais difícil.
Medo, assim como ansiedade, é uma reação natural. Em ambos os casos, resistir e rejeitar tornará tudo pior, assim como se deixar dominar.
Aplicação pessoal
Em A Lógica do Cisne Negro, Nassim Taleb conta sobre a maior baixa que o mercado de ações sofreu na história (isso em 1987).
Ele relata como viu adultos soluçando e pessoas nervosas na cidade sem entender o que estava acontecendo. Um primo seu telefonou para informar que o vizinho do andar de cima, Jimmy P., se suicidou jogando-se da janela do apartamento.
A queda do mercado de ações é algo ruim, mas o descontrole e o medo que deram origem ao pânico que jogou a população no caos é muito pior. Perder todo o dinheiro é algo desesperador, mas se jogar da varanda não é um efeito colateral pior do que tentar reconstruir o patrimônio?
Jimmy P. talvez ainda estivesse vivo hoje se, ao invés de se apavorar e aceitar a janela como a única solução, ele tivesse refletido sobre como entrar em desespero não ajudaria na hora de recuperar o que perdeu.
Reconheça o problema e suas implicações, mas não deixe o medo decidir por você.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#278 — Marco Aurélio sobre como ser um cidadão
"O que não é bom para a colmeia, não é bom para a abelha."
— Marco Aurélio
Marco Aurélio foi um dos primeiros escritores (mesmo que sem intenção de ser publicado) que articulou a ideia de cosmopolitismo: "sou um cidadão do mundo, não apenas de Roma". A ideia da abelha e da colmeia é um lembrete dessa perspectiva.
Em outro ponto, Marco também escreve a ideia reversa: "o que não pode machucar a comunidade, não pode machucar o indivíduo". O que é bom para a colmeia, é bom para a abelha.
Se algo é ruim para você, não significa que seja ruim para todos. Se algo é bom para você, definitivamente não vai ser bom para o resto.
Imagine uma pessoa que ganha dinheiro vendendo informações suas para outros. Quando ela ganha, significa que você perdeu muita coisa (incluindo privacidade). E esse é o tipo de pessoa que você quer ser?
Uma pessoa estoica entende que os impulsos adequados e as ações corretas beneficiam o todo. E que a soma desses atos positivos retorna de forma positiva para o indivíduo.
Aplicação pessoal
No último final de semana, um atirador disparou do 32º andar de um hotel na direção de um festival de música country. Dezenas de pessoas morreram e centenas ficaram feridas.
Neste mesmo final de semana, uma outra pessoa pode ter passado horas em pé cozinhando para pessoas sem-teto ou ensinando crianças de uma comunidade carente.
Não é preciso forçar a massa cinzenta para saber qual ação é positiva para a comunidade e qual não é.
Como não podemos controlar outras pessoas, precisamos nos perguntar: que tipo de ações nós estamos fazendo ou estimulando? As que contribuem pra a colmeia, ou as que estão destruindo-a?
Nunca é tarde para começar algum tipo de contribuição — seja em termos de tempo, atenção, dinheiro ou energia.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#276 — Cuidado com o que você diz
"É melhor tropeçar com os pés do que com as palavras."
— Zenão de Cítio
Você sempre pode se levantar depois de cair, mas você não pode remover o que foi dito. Especialmente se foram coisas cruéis.
Escolha bem suas palavras porque elas sempre acham o caminho até o alvo.
Aplicação pessoal
Voltemos a uma das principais recomendações dos estoicos: pare e pense antes de fazer algo.
Não importa se você está prestes a explodir de raiva. Se você quer xingar algum motorista babaca que passou por cima de uma poça e lhe molhou inteira(o). Se você quer reclamar com a diarista ou com algum funcionário por causa de algo que fizeram e lhe irritou.
Em nenhum momento se entregue às primeiras palavras que vierem à boca. Pessoas não respondem a palavras cruéis — e nunca as esquecem.
Sempre existe uma escolha mais gentil.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#274 — Por que reavaliar suas prioridades
“A luz de uma lâmpada não brilha e mantém sua intensidade até que seu combustível seja consumido? Por que então a verdade, justiça e autocontrole não devem brilhar até que você finde sua existência?”
— Marco Aurélio
“Nós mortais somos acendidos e extinguidos.” Essas palavras foram escritas por Sêneca em uma repetição das palavras de Heraclitus.
Na visão dos estoicos, logos, a ordem do universo, inunda todo o espaço e é a origem da nossa capacidade de raciocinar — o clique que acende a luz. Somos um pequeno pedaço dessa razão universal. E não importa se perdemos o contato com ela há um tempo, sempre podemos reencontrá-la porque ela faz parte de nós.
O hoje e o agora é um local tão bom quanto qualquer outro para estar em contato com logos e praticar todas as virtudes que dele se originam: verdade, justiça, coragem e autocontrole.
Aplicação pessoal
Uma das várias críticas que o estoicismo recebe é em relação a aparente ausência de sentimentos.
Estoicos não reprimem os sentimentos. Eles reconhecem o que sentem, refletem sobre suas causas e filtram de acordo com as quatro virtudes cardinais da filosofia, em outras palavras, eles usam os sentimentos de forma positiva.
“Por que então a verdade, justiça e autocontrole não devem brilhar até que você finde sua existência?”
Voltando às palavras de Marco Aurélio, se você é incapaz de seguir as virtudes e os valores que aceitou em sua vida, como você pode fazer as escolhas corretas dado o seu contexto atual? Você vai escolher perder a cabeça e fazer merda ao invés se controlar e achar uma solução. Você vai escolher fazer horas extras ao invés de jantar com a família, mesmo quando prometeu que estaria em casa antes da 20h. Você vai escolher Netflix and chill quando tem trabalho a fazer. E isso acontecerá de forma reativa porque a reação inicial sugerida pelo seu cérebro vai parecer a correta. Você vai realizar uma ação sem filtrar a emoção que a originou.
Em todos os momentos, devemos ter em mente aquilo que é mais importante para nós e usar esses sinais como guias das nossas escolhas. Mas e se você perdeu de vista o que importa? Você sempre pode parar e reavaliar o que tem guiado suas decisões.
Se tudo parece confuso e sem sentido, está na hora de reavaliar suas prioridades. Se você quer mudar a forma que vê seus problemas, você deve mudar aquilo que você valoriza ou sua métrica de “sucesso”.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#272 — A carta curinga
"Quão apropriado que os deuses tenham colocado sob nosso controle apenas a habilidade mais poderosa e que governa todo o resto — a habilidade de fazer uso correto das aparências externas — e que eles não colocaram nada mais sob nosso controle. Foi simplesmente por que eles não queriam nos dar mais? Eu acredito que, se fosse possível, eles teriam nos dados mais, mas era impossível."
— Epictetus
Nós podemos pensar sobre o dia de amanhã e nos desesperar em relação a tudo que não podemos controlar. Outras pessoas. O trânsito. A temperatura. Se vai chover. Se o cliente vai aceitar a proposta. Se a academia estará lotada.
Ou podemos olhar para esse mesmo dia e apreciar tudo o que podemos controlar: a habilidade de decidir o que cada evento significará. Pode não parecer muito, mas trata-se de um poder absoluto — a verdadeira forma de controle.
Se humanos tivessem a habilidade de controlar outros humanos, os outros não teriam controle sobre você também? Uma habilidade inerente a uma espécie é acessível a todos da espécie, com algumas exceções.
Você não controla os outros nem o mundo externo, mas você tem pleno poder de escolher como responder a cada um deles. Incluindo em relação a essa coisa difícil na sua frente. Se você mudar a percepção, talvez ela deixe de ser tão assustadora.
Aplicação pessoal
No jogo de Canastra, tanto a carta número 2 (qualquer naipe) e o curinga podem substituir qualquer outra carta em uma sequência.
Se o mundo real fosse um jogo de Canastra, retornando às palavras de Epictetus, a nossa mente seria a carta curinga: ela pode interpretar o mundo real da forma que preferir e completar o sequência. Na verdade, é isso que fazemos a todo momento.
Segundo a psicóloga e professora Lisa Feldman, a cada momento acordados, nosso cérebro usa a experiência passada e conceitos aprendidos para guiar nossas ações e dar às nossas sensações algum significado. Se não tivéssemos essa habilidade, tudo ao nosso redor seria apenas ruído.
O que esquecemos é: temos controle sobre esse significado que o cérebro atribui às coisas. Ele pode gerar uma resposta aos padrões que recebeu como entrada, mas nós podemos dizer se está correta ou não. Podemos refutar a primeira percepção.
Bateram no seu carro. A resposta padrão será ficar enfurecido(a). Mas antes de você aceitar a sensação-resposta (o espaço entre estímulo e ação que Viktor Frankl mencionava), você pode parar e decidir que não é a melhor escolha. Então, você define uma nova sensação-resposta para esse caso — não se irritar e tentar conversar com o outro motorista para resolver o problema sem cuspir fogo ou xingar alguém. Faça isso por tempo suficiente e ela se tornará a resposta automática do cérebro (hábito).
Você sempre pode escolher como responder aos eventos do mundo externo. Basta lembrar que pode fazer essa escolha, ao invés de apenas reagir de acordo com a primeira sensação que o cérebro recomendar.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#270 — O que a prosperidade vai revelar?
"Porque até mesmo a própria paz irá fornecer razão para a preocupação. Nem mesmo as circunstâncias positivas trarão confiança uma vez que sua mente está abalada — uma vez que ela tem o hábito de se desesperar, ela não pode fornecer a própria segurança. Pois ela não consegue evitar o perigo, apenas fugir."
— Sêneca
Existe um provérbio que afirma que o dinheiro não muda as pessoas, ele revela. Robert Caro levou a ideia um pouco além e escreveu que o poder não corrompe, ele também revela. Em muitos casos, a prosperidade — financeira e pessoal — funciona da mesma forma.
Como disse Sêneca, se sua mente desenvolveu o hábito de entrar em pânico, não importa quão boas as coisas são, você ainda está sintonizado(a) com o pânico. Não importa quanto você tenha, você ainda será infeliz — especialmente agora porque tem mais a perder. Você viverá em um mundo em que cada esquina esconde uma ameaça.
Logo, não existe muito sentido em desejar a boa sorte.
O mais lógico é desejar pela capacidade necessária para prosperar na boa ou na má sorte. Ou melhor, trabalhar para desenvolver as características necessárias. Assim, quando a boa sorte chegar, ela vai revelar uma pessoa resiliente. Não uma paranóica.
Aplicação pessoal
Pense em alguém que foi promovido, como consequência conseguiu um aumento significativo, além de um bônus. Quais as chances dessa promoção subir à cabeça de alguém? E quais as chances dela ficar paranóica, vendo inimigos em todos os cubículos do prédio?
Existem dezenas de tiranos paranóicos na história do mundo para ilustrar como poder, dinheiro e prosperidade revelam os piores lados do caráter de alguém. E nem eu nem você estamos imune a isso, mas podemos trabalhar para evitar esses efeitos indesejados.
Em suas cartas, Sêneca sempre dizia a Lucílio que, nos momentos de prosperidade, existe a oportunidade perfeita para treinar a resiliência e, de certa forma, o desapego. Voltamos ao praemeditatio malorum, tanto para não nos deixarmos levar pela sorte, quanto para não nos deixarmos dominar pelo pânico.
Portanto, aceite a sorte quando ela vier, mas mantenha em mente que:
1. As boas coisas não são eternas. Tudo chega a um fim, especialmente o bons momentos. Então, quanto mais cedo você se preparar para ele, melhor.
2. Se você tem o hábito de entrar em pânico, não importa quão boas sejam as suas circunstâncias, você entrará em pânico por qualquer coisa. Comece a treinar seu auto-controle e a aceitar a realidade de que nem sempre você vai ganhar.
3. O mundo não gira em torno de você. A sua promoção não vai incitar conspirações ou tentativas de assassinato por parte do Universo. Não atribua à malícia o que pode ser explicado pela estupidez (Navalha de Hanlon).
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#268 — Por que somos todos viciados (e como se libertar da servidão autoimposta
"Mostre-me alguém que não é um escravo! Um é escravo da luxúria, outro é escravo da ganância e outro do poder, e todos somos escravos do medo. Eu poderia nomear um ex-cônsul que é escravo de uma mulher idosa, um milionário que é escravo de uma moça da limpeza…nenhuma servidão é mais deplorável do que a autoimposta."
— Sêneca
Todos somos viciados de uma forma ou de outra.
Somos viciados nas nossas rotinas, no nosso café (guilty!), no conforto, na aprovação de outra pessoa. Essas dependências significam que não estamos no controle das nossas escolhas, a dependência está.
Epictetus disse que qualquer um que queira ser verdadeiramente livre não desejará algo que pertence a outra pessoa, exceto se o verdadeiro desejo é se tornar um escravo.
As pessoas pelas quais temos afeição podem sair de nossas vidas tão rápido quanto entraram. Nossas rotinas podem ser perturbadas por eventos externos. O médico pode nos proibir de beber café (espero que nunca aconteça). Podemos não ter mais água quente no chuveiro ou um ar condicionado no quarto.
Dada a imprevisibilidade do mundo, devemos testar nossas dependências antes que elas se tornem grandes demais.
Hoje, resista a algo que você considera como necessário. Será que vai ser tão ruim assim?
Aplicação pessoal
Uma filosofia com poucos princípios é mais fácil de ser estudada e aprendida do que uma que dependa de modelos complexos do mundo — o sistema razoável que você consegue seguir é melhor do que o perfeito que você abandona. Essa é uma das razões para os Estóicos são considerados como repetitivos, mas essa repetição é necessária.
Com Sêneca, voltamos a um dos exercícios preferidos: a prática do infortúnio (que já mencionei aqui, aqui, aqui e aqui, e em outros textos que não lembro o título).
Hoje você pode resistir a algo? Ao café (acredite ou não, eu consigo passar dias sem café). A atender ao celular assim que ele tocar. A responder os emails assim que chegarem na inbox. Ao banho quente. A perguntar a alguém se sua roupa está adequada ou deveria trocá-la.
Nesta semana você pode deixar seu carro de lado? Neste mês você pode mudar sua dieta? Abandonar alimentos processados e bebidas calóricas.
Para mim, jejum é um dos piores momentos da semana porque… eu adoro comer (mesmo que o vício não se reflita no meu peso). Mas isso é apenas minha dependência falando.
A percepção do evento tende a ser terrível e insuportável quando o evento em si não provoca qualquer dor ou incômodo. Mesmo que algo pareça impossível, comece. Nada é tão ruim quanto nossa mente faz parecer. Aprenda a se tornar invulnerável enquanto ainda pode.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#266 — Poderia ter sido com você
"O inesperado pesa em um desastre e ser surpreendido jamais falhou em aumentar a dor de alguém. Por essa razão, nada deve ser considerado como inesperado por nós. Nossas mentes devem contemplar antecipadamente todas as coisas e não deveríamos considerar apenas o curso normal das coisas, mas também o que poderia acontecer. Pois existe alguma coisa na vida que a Sorte não derrubará se assim desejar?"
— Sêneca
No ano 64, durante o reinado de Nero, um incêndio (que não foi iniciado pelo imperador) se espalhou pela cidade de Roma. Então, a cidade francesa de Lyon enviou uma grande soma de dinheiro para ajudar as vítimas.
No ano seguinte, os cidadãos de Lyon foram vítimas de um incêndio similar ao de Roma. Nero, apesar de instável e de índole questionável, enviou uma soma de dinheiro equivalente à que recebeu para ajudar os franceses.
Sêneca escreveu uma carta para um amigo ilustrando a grande ironia — uma cidade ajudando a outra, apenas para ser vítima de um desastre similar. Quase um texto poético.
"O inesperado pesa em um desastre e ser surpreendido jamais falhou em aumentar a dor de alguém. Por essa razão, nada deve ser considerado como inesperado por nós."
Quão frequentemente essa ironia não acontece nas nossas vidas? Consolamos um amigo e somos surpreendidos(as) com alguma tragédia. Nesses momentos, os Estóicos aproveitam para praticar a filosofia.
Se algo ruim acontece a alguém, devemos estar prontos para ajudar (se estiver em nosso alcance). O que quer que tenha acontecido poderia facilmente ter sido conosco, nós poderíamos estar precisando de ajuda.
Da próxima vez que você decidir não fazer algo por alguém, lembre-se que existe a possibilidade de você estar em alguma situação parecida no futuro. A vida adora uma ironia.
Aplicação pessoal
Em 2005, New Orleans foi devastada pelo furacão Katrina e a cidade de Houston recebeu vários dos seus refugiados. Neste ano, Houston foi vítima do furacão Harvey e os cidadãos de New Orleans montaram um programa para ajudar as pessoas que os ajudaram uma década antes. Mas o movimento da tempestade adicionou mais um fato à ironia: New Orleans se prepara, de novo, para um desastre.
Não se trata de uma relação de negócios — eu ajudo você e você me ajuda.
Trata-se de praticar gentileza.
Seja a pessoa que oferece ajuda porque, quer você acredite ou não, no dia seguinte você pode ser o próximo a precisar dela. E ninguém está muito interessado em ser gentil com lhe negou ajuda.
(Mas atenção: em casos envolvendo dinheiro, só empreste se puder e se sabe que vai receber o dinheiro de volta, caso contrário é um puta de um golpe na amizade).
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#264 — Sobre eventos inesperados (Como impedir o trem de descarrilhar completamente)
"Quando as circunstâncias o forçarem à confusão, volte ao controle rapidamente. Não seja tirado do ritmo mais tempo do que necessário. Você conseguirá voltar à batida se constantemente se guiar de volta ao seu som."
— Marco Aurélio
Cisnes Negros, na definição de Nassim Taleb, são eventos incomuns que: primeiro, são outliers porque não estão no âmbito das expectativas comuns; depois, exercem um impacto extremo; e por fim a natureza humana faz com que desenvolvamos explicações para sua ocorrência após o evento. Ataques terroristas e pânico financeiro configuram Cisnes Negros.
Mas existe o outro lado da moeda: eventos ordinários que também desafiam as expectativas.
A bateria do carro que morre quando você precisa sair para trabalhar. Uma amiga que cancela o compromisso no último minuto. A resposta do email que não chegou quando você precisava.
Em ambos os casos, fazemos suposições sobre como o mundo deveria funcionar e criamos planos em cima dessas suposições. Quando a suposição é falha (algo dá errado), nosso planejamento e entendimento sobre a situação também entra em colapso. Nesse momento temos a tendência de nos entregar ao caos interior, quando, na verdade, está tudo OK.
Se a bateria do carro morreu, chame um táxi ou Uber. Se cancelarem o compromisso, ou você sai sozinho(a) ou fica em casa relaxando. Se o email não chegar, você põe seus conhecimentos em prática e encontra uma solução. Trata-se de voltar aos trilhos o mais rápido possível ao invés de deixar o trem descarrilhar completamente.
Hoje as coisas vão dar errado. O que você vai fazer: se adaptar ou entrar em desespero?
Aplicação pessoal
Preciso fazer uma separação entre dois tipos de caos: o interno e o externo.
O caos externo sempre existirá porque é assim que o mundo funciona, não aceitá-lo é viver em estado de frustração. O caos interno, contudo, é onde reside o problema. Caos interno é uma confusão de emoções e sensações que prejudicam a capacidade de raciocinar e atrapalham o desempenho.
Pense em uma musicista que está en tournée. Ela fez seus shows no Brasil, passou pela Argentina e se dirigiu para Guadalajara. Ao chegar na casa de shows, verificou que nenhum instrumento e nenhum jogo de luzes foi reservado! Ela simplesmente não tinha o material necessário.
Como musicista, a Zaz sabe que essas coisas são incidentes que podem acontecer e ela não tinha como solucionar o problema em menos de 10 horas. Podia apenas se desculpar com todos os fãs, aproveitar os dias em Guadalajara e continuar a turnê.
A ordem e a paz podem ser perturbados por uma nova circunstância. Isso pode lhe irritar, mas você não deve se deixar dominar pela irritação e dar espaço ao caos, como fez a Amy Winehouse ao abandonar o palco no meio do show que fez aqui em Recife.
Imprevistos fazem parte da vida. Xingue algumas vezes se for preciso, mas não reclame mais tempo do que o necessário (na verdade, não reclame). Adapte-se à situação e volte ao caminho. Quanto mais você praticar, mais fácil será se manter no controle.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#262 — A flexibilidade da mente (ou como não ser um robô e aproveitar as oportunidades)
"Lembre-se que mudar sua mente e seguir com a correção de alguém é consistente com o livre arbítrio. Porque a ação é sua, e apenas sua — para cumprir seu propósito de acordo com seu impulso e seu julgamento, e sim, sua inteligência."
— Marco Aurélio
Quando você diz que vai fazer algo, você faz? Você vai até o fim? Se consegue, é algo impressionante. A maioria das pessoas não consegue se comprometer por mais de uma semana.
Mas essa determinação nem sempre é útil. Ela pode criar um tipo de escravidão: o de jamais reconsiderar as situações e o contexto. Cedo ou tarde, a determinação de ferro pode virar um risco.
Condições mudam. Novos fatos se tornam conhecidos. Circunstâncias surgem. Se você não se adapta ao novo cenário, se você segue em frente, incapaz de se ajustar a essa informação adicional, você é tão bom quanto um robô.
Robôs recebem ordens e as seguem estritamente. Humanos têm plasticidade neural, são adaptáveis. A questão não é ter vontade de ferro, mas uma vontade adaptável — reconhecer as mudanças e usar a razão, dado o novo cenário, para clarificar percepções, impulsos e julgamentos (e jogar fora o que não serve mais).
Antifragilidade é resistir a algo e melhorar após o impacto (algo além da resiliência). Mas como você pode melhorar se decidir marcar tudo em pedra?
Aplicação pessoal
"Quando eu considerar X, é porque minhas outras opções se esgotaram", afirmei categoricamente, há alguns anos, enquanto conversava com minha mãe. Hoje, me pergunto porque relutei tanto em considerar a sugestão.
Talvez, no passado, eu tivesse me considerado um fracasso se tivesse logo aceitado a opinião dela — na verdade, provavelmente me sentiria assim. Devo me considerar um fracasso hoje por ter aceitado mudar meus objetivos? Claro que não. As condições eram outras, as expectativas também. O contexto mudou, assim como a coisa mais lógica a ser feita.
Não existe fraqueza alguma ou covardia em admitir o erro. Precisamente o contrário. (Ninguém gosta de admitir que está errado, não faz bem para o ego.) Covardia é persistir com algo que não faz mais sentido para não reconhecer a falha no julgamento.
Como diria Charlie Munger, "é mais fácil evitar a estupidez do que surgir com uma ideia genial".
Se é estúpido continuar fazendo X, então faça Y, mesmo que Y não vá mudar o mundo.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#260 — Como lidar com quem não gosta de você
"Alguém me menospreza. É problema dele.
Meu problema: não fazer ou dizer algo desprezível.
Alguém me odeia. É problema dele.
Meu problema: ser paciente e alegre com todos, incluindo os que me odeiam. Estar pronto para lhes mostrar seu erro. Não de forma rancorosa, ou para me gabar do meu auto-controle, mas de uma forma honesta e correta. (…) É assim que deveríamos ser internamente e jamais deixar que os deuses nos encontrem sentindo raiva ou ressentimento."
— Marco Aurélio
Marco Aurélio, sendo imperador, provavelmente tinha uma legião de opositores. Pessoas que não concordavam com suas escolhas, que não gostavam dele, políticos que tentavam invalidar suas decisões e inimigos entre seus amigos.
Um dos amigos-que-viraram-inimigos de Marco Aurélio tentou matá-lo para tomar o trono do império Romano, afirmando que merecia a coroa mais do que o próprio Marco. Marco conteve sua investida e… o perdoou. Ele não odiou quem o odiava, enquanto o resto da sociedade romana esperava uma condenação.
Quando alguém tem uma opinião forte sobre algo, normalmente essa opinião diz mais a respeito da pessoa do que sobre o objeto da opinião. Especialmente quando se trata de preconceito ou ódio em relação a outros.
Por essa razão, o Estóico adota a seguinte postura ao encontrar alguém pregando o ódio, expondo uma opinião prejudicial ou falando mal deles: eles se perguntam "essa opinião está no meu controle?", se existe uma chance de influenciá-la, eles educadamente apresentam fatos que mostram o erro na lógica alheia. Caso não possam fazer algo, eles aceitam a pessoa como ela é.
Nossa vida já é difícil o bastante. Não temos tempo a perder pensando sobre o que os outros estão pensando, mesmo que seja sobre nós.
Aplicação pessoal
A atitude estóica em relação aos outros pode parecer passiva, mas é uma lógica simples
Se você tenta convencer alguém de que algo não está correto, essa pessoa não aceita seus argumentos nem os fatos e também direciona a raiva a você por ter uma opinião contrária, vale a pena continuar insistindo? Não. A tentativa não foi desperdício de tempo, mas insistir na discussão seria.
Pessoas que têm algum tipo de preconceito fecharam a mente. Elas acreditam apenas naquilo que percebem como sendo verdade. Mas para cada trouxa de mente fechada, você pode encontrar dezenas de pessoas de mente aberta.
Um bom exemplo sobre como lidar com opositores é o autor Neil Strauss. Sempre que ele começa a escrever um livro, ele pensa em todos os possíveis contra-argumentos serão usados para invalidar suas afirmações e apresenta as respostas no próprio livro. Se não adiantar e alguém surgir afirmando que ele escreveu 400 páginas de besteiras, ele vai ficar perturbado? Não, ele aceita que existem pessoas incapazes de aceitar outros pontos de vista. Essas pessoas vão dar uma estrelinha na Amazon, mas muitas outras vão achar utilidade naquilo que ele escreveu.
Não perca seu tempo se preocupando com o que os outros pensam de você ou deixam de pensar, mas não perca a chance de mostrar a verdade a alguém sempre que for possível — seja a acusação a respeito de você ou não. Porque mesmo que não seja a vítima do preconceito ou do ódio, você pode ajudar a contê-los.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#OFF — AVISO//004
O Senado Federal marcou para o próximo dia 18 uma discussão sobre a Escola do Estoicismo.
A sessão vai ocorrer devido à aprovação de requerimento do senador Eduardo Girão (Novo-CE). “Proponho uma sessão especial para debatermos e homenagearmos o Estoicismo e, quem sabe, incorporarmos parte de seus ensinamentos nessa Casa educando os legisladores e o público em geral sobre essa filosofia antiga e como seus princípios podem ser aplicados aos desafios enfrentados pela sociedade atualmente”, justifica o senador.
Girão explica assim o Estoicismo em seu requerimento: “É uma escola e doutrina filosófica surgida na Grécia Antiga, que preza a fidelidade ao conhecimento e o foco em tudo aquilo que pode ser controlado pela própria pessoa”.
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@estoicismo
#257 — Peça por aquilo que está em seu poder
"Ou os deuses existem ou eles não existem. Se eles não existem, por que rezar? Se existem, por que não rezar por algo diferente do que coisas acontecerem ou não? Reze para não sentir medo. Ou desejo, ou tristeza. Se os deuses podem fazer algo, eles podem fazer isso por nós."
— Marco Aurélio
Se você deseja que algo aconteça (ou não aconteça), o ato de pedir por isso a uma entidade invisível é uma prece. Ou seja, rezamos bem mais do que achamos.
Nesses momentos, quando estamos sozinhos e pedimos por algo, revelamos quão egoístas e preguiçosos realmente somos. Esperamos que uma entidade superior provoque uma intervenção divina e resolva nossos problemas. Que ela forneça os números da Mega Sena para não termos que juntar o dinheiro nós mesmos. Que ela faça aquela pessoa vir a nós, ao invés de ter coragem e abordá-la (correndo o risco de sermos rejeitados).
Em raros momentos pedimos por coragem para agir, força para suportar algo ruim, sabedoria para não escolhermos mal ou senso de justiça para sabermos como lidar com os outros — as próprias características que deveríamos desenvolver sem ajuda divina.
Não é melhor pedir por algo que nós mesmos podemos desenvolver? Caso os deuses não existam, temos como resolver a situação. Se existem, eles não terão problemas em reforçar nossas virtudes.
Aplicação pessoal
Bruce Lee uma vez disse, "não peça por uma vida fácil, peça pela força para suportar uma difícil". As palavras de Bruce Lee são uma releitura das palavras de Marco Aurélio.
Se existe um plano divino, então tudo acontece como deveria — de forma a nos ensinar alguma coisa. Se não existe, tudo é fruto do acaso. Em ambos os casos, não importa quão intensa seja nossa prece, as coisas irão acontecer como devem.
Ao invés pedir para que as coisas sejam diferentes (viagem no tempo ainda não é possível), devemos nos perguntar: o que é necessário para conduzir a situação sem grandes problemas? A resposta dessa pergunta é o que devemos pedir que nos seja concedido.
Se um dos seus melhores amigos se suicidar, não peça aos céus para que seja mentira ou recrimine os deuses pelo que houve. Peça por auto-controle e capacidade para suportar a realidade.
Se você perder seu dinheiro, não peça para que o número da Mega Sena apareça em sonhos. Peça por discernimento e sabedoria para que esse erro não seja repetido.
Desenvolva clareza e procure por aquilo que está em seu poder. Talvez suas preces já tenham sido atendidas.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#255 —Como não ser um idiota arrogante
"Zenão sempre dizia que nada é mais inconveniente do que arrogância, especialmente com os jovens."
— Diógenes
Isócrates escreveu uma carta para Demonicus de forma a orientar o jovem que havia perdido o pai. Em um trecho da carta, ele diz:
Seja amável em suas relações com aqueles que se aproximarem de você e jamais altivo; porque o orgulho do arrogante nem mesmo os escravos conseguem tolerar.
Na arte, um tema comum é o pirralho mimado e super confiante que precisa aprender algumas lições com um mestre sábio. É um cliché porque é um fato.
As pessoas tendem a colocar o carro na frente dos bois acreditando que possuem todas as respostas. Até o momento em que sofrem uma queda assustadora — cuja origem tende a ser sua própria arrogância ou o mestre sábio que precisa forçar algum conhecimento.
Isócrates advertiu Demonicus sobre esse comportamento, sobre acreditar em excesso e supervalorizar a própria capacidade. Demonicus pode ter seguido, ou não, o conselho do amigo de seu pai. Você tem a mesma escolha.
Aplicação pessoal
D'Artagnan se enquadra perfeitamente na definição de pivete insuportável. Sua arrogância o levou a ser ridicularizado, espancado e ter sua carta de recomendação roubada. Mas não foi o suficiente para ele deixar de ser babaca. A personagem de Dumàs fez uma escolha. Você pode escolher algo diferente.
Ralph Waldo Emerson uma vez disse: "todo homem que conheci, em algum momento, foi meu mestre". E Sócrates afirmou: "só sei que nada sei". Se essas duas afirmações fossem mantidas em mente, a bolha do ego jamais seria inflada — logo, não precisaria ser estourada e, consequentemente, ninguém precisaria passar vergonha.
Você não têm todas as respostas (nem eu, nem Sócrates, nem Emerson) e alguém sempre saberá mais do que você. Aceitar isso significa eliminar o excesso de confiança — o que lhe tornará uma pessoa mais simpática e com pés no chão.
Em outras palavras: seja realista e você não terá tantas surpresas desagradáveis.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#253 — Praticando o infortúnio (Roubando o poder das adversidades)
"Aqui está uma lição para testar sua mente: defina uma semana na qual você terá apenas a comida mais barata, se vestirá com roupas grossas e ásperas e se perguntará se era isso o que você temia. Quando os tempos são bons você deveria se preparar para os momentos difíceis que virão porque quando a Sorte é gentil, a alma pode construir defesas contra a devastação. Por isso os soldados praticam as manobras de batalha durante os tempos de paz, erguem defesas quando não existe inimigo à vista e se exaurem enquanto nenhum ataque existe. Quando o inimigo vier, eles não se cansarão."
— Sêneca
O que aconteceria se você passasse um mês vivendo os efeitos da pobreza, fome, solidão ou qualquer outro tipo de medo?
Primeiro, um choque. Depois, a sensação de normalidade.
Seguindo o conselho de Sêneca, durante alguns dias, Tim Ferriss decide abandonar todo o luxo e vive atendendo apenas as necessidades básicas. Mas por que alguém como Tim Ferriss iria se sujeitar a isso?
Nas próprias palavras de Sêneca, "Se você deseja que um homem não trema perante a crise, treine-o antes que ela chegue."
Ferriss não pode contar com a boa sorte para sempre. Existe a possibilidade dele fazer um mau investimento, de magicamente seus livros pararem de vender, dele se tornar incapaz de continuar seu podcast e outros programas.
Por isso ele decide sofrer voluntariamente por alguns dias, para compreender que aquilo que ele teme não é o fim do mundo e para desenvolver as habilidades necessárias caso o mau momento venha.
Aplicação pessoal
Durante alguns dias a cada dois ou três meses, Sêneca incentiva o sofrimento voluntário.
Durma no chão. Use transporte público. Tome banhos frios. Saia sem o celular. Alimente-se apenas com grãos. Abdique de alguma refeição diária. Lave suas roupas na mão. Abdique do secador/da chapinha. Não use maquiagem. Não vá a restaurantes. Não assista TV. Use internet apenas em locais públicos que possuam wi-fi. Não use ar-condicionado. Vista-se com roupas simples. Limite o dinheiro que tem para gastar.
Existem centenas de coisas que você pode praticar, centenas de problemas que você pode resolver antecipadamente.
Nos acostumamos à sorte da mesma forma que podemos nos acostumar à má sorte. E quando nos preparamos para a adversidade, roubamos seu poder de nos machucar.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)
#251 — Não confie na sorte (Como treinar para os momentos de adversidade)
"Ninguém é destruído pela Sorte, exceto quando, primeiro, são enganados por ela… aqueles que não são pomposos nos bons momentos não têm suas bolhas estouradas com a mudança. Contra todas as circunstâncias, uma pessoa estável mantém sua alma racional invencível, porque é precisamente nos bons tempos que ela prova sua força contra a adversidade."
— Sêneca
No ano 41, Sêneca foi exilado de Roma. Não se sabe exatamente o porquê, existem apenas rumores sobre um possível caso dele com a irmã do imperador.
Ele era um homem bem sucedido, com uma excelente posição na sociedade romana. Até o momento em que tudo isso lhe foi tirado. Ele foi mandado para a ilha de Córsega onde viveu em privação por anos.
Durante seu exílio, os instintos de Sêneca o fizeram escrever uma carta para sua mãe, Hélvia, conhecida como De Consolatione ad Helviam Matrem. Uma carta com intenção de confortá-la, ao invés de ressaltar sua própria miséria.
Apesar de, em algumas cartas, ele implorar para retornar a Roma (pedido que foi atendido pela mãe de Nero), de modo geral ele lidou bem com seu exílio. A filosofia que ele estudou por tantos anos mostrou sua utilidade frente à adversidade e lhe deu determinação e paciência, além de guiar a própria mãe durante o sofrimento.
Quando finalmente recuperou sua posição em Roma, a mesma filosofia o impediu de considerar a sorte como certa. O impediu de se tornar dependente dela.
Quando a sorte fornece favores, eles não devem ser considerados como eternos. Nestes momentos devemos nos preparar para quando ela nos abandonar.
Aplicação pessoal
Na carta Sobre Festivais e Jejum, Sêneca sugere um exercício ao seu amigo Lucílio:
Eu estou firmemente determinado, contudo, a testar a constância da sua mente que, inspirado pelos ensinamentos de grandes homens, eu lhe darei, também, uma lição: defina uma quantidade de dias na qual você se tornará contente com as coisas mais baratas, com roupas grossas e ásperas, e dirá para si enquanto isso: "Esta era a condição que eu temia?"
Quando as coisas acontecem de forma favorável, nos acostumamos às vantagens que temos e as consideramos como certas. Até o momento que a sorte as leva embora. Infelizmente, nesse momento, já nos tornamos dependentes daquilo que possuíamos.
O exercício que Sêneca sugere a Lucílio serve especificamente para evitar esse tipo de dependência.
O que você considera como certo em sua vida? Durante alguns dias, abdique disso e se pergunte se essa perda é realmente tão assustadora quanto parecia na sua mente. Durma em um saco de dormir no chão da sala. Use roupas mais simples do que as que você usa diariamente. Adore o transporte público ao invés do seu carro.
Como disse Sêneca, quando nos preparamos para a adversidade, roubamos seu poder de nos machucar. Aproveite a sorte, mas não dependa dela. Ela é tão volátil quanto temperamento de pré-adolescente.
@estoicismo | texto por Sabrina A. (2017)